22 de junho de 2009

A DOCE ILUSÃO DA EMANCIPAÇÃO


Actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço: outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma - um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Isso em nada difere da escravatura. A escravatura mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria. Assim, para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrem e considerem semelhante coisa como um pecado ou vergonha. Entretanto, eles suprimem a forma exterior da escravatura, depois imaginam, persuadem-se de que a escravatura está abolida mas não vêem, não querem ver que ela continua a existir porque as pessoas procedem sempre de maneira idêntica e consideram bom e equitativo aproveitar o trabalho alheio. E desde que isso é julgado bom, torna-se inevitável que apareçam homens mais fortes ou mais astutos dispostos a passar à acção. A escravatura da mulher reside unicamente no facto de os homens desejarem e julgarem bom utilizá-la como instrumento de prazer. Hoje em dia, emancipam-na ou concedem-lhe todos os direitos iguais aos do homem, mas continua-se a considerá-la como um instrumento de prazer, a educá-la nesse sentido desde a infância e por meio da opinião pública. Por isso ela continua uma escrava, humilhada, pervertida, e o homem mantém-se um corruptor possuidor de escravos. - Leon Tolstoi, in 'Sonata a Kreutzer' (1889) – Editora Relógio d’Água
O título que dou ao presente texto não é leviano, não foi colocado apenas porque é preciso dar um rótulo ao que escrevo, como aqueles outros que servem para assinalar as diferentes marcas de um qualquer produto. Não, o título é mesmo intencional.

E é intencional porque, pretendo aqui questionar a emancipação e dentro desta a das mulheres - reparem que eu digo questionar e não criar entendimentos, ou, rotular a posição das mulheres, quer no mundo, quer na actual sociedade. De forma alguma tenciono fazer julgamentos porque, para tal teria de ser empossada de juízos e eu quero-me livre, arreada das conjecturas dos outros.

Sou uma crente da pergunta e por conseguinte, acredito que ela, em sim mesma, é mais do que meio caminho para a resposta; por isso, à criva da censura do orgulho feminino pergunto: o que é isso da emancipação das mulheres?

Não quero discorrer numa evolução histórica sobre a ascensão da mulher na sociedade ou na política, isso é transmutar por completo o objecto da minha pergunta, que se atentarmos bem, é simples e directa.

O que é que é, efectivamente, a emancipação da mulher?

Dir-se-á que é a ocupação dos mesmos afazeres/tarefas que os homens?

Dir-se-á que é a utilização da mesma força/intelecto que os homens?

Dir-se-á que é a utilização da mesma pose social que os homens?

Antes de, à laia do impulso, se responder a estas perguntas analisemos um pouco o significado da palavra emancipação.

A palavra emancipação tem como significado liberdade, independência, autonomia pode-se descrever sucintamente como: estado daquele que, independente de toda e qualquer tutela, pode administrar os seus bens livremente. Assim sendo, emancipado é todo aquele que no pleno uso das suas faculdades e bens gere a sua vida.

Ora bem, se assim é a emancipação escrutinada à luz de um qualquer dicionário de português, nada tem a ver com homens; contudo, a emancipação das mulheres tem tudo a ver com homens.
Pergunte-se a qualquer mulher o que entende ela por emancipação e tão certo como eu ser eu, um homem virá à baila. O porquê da emancipação das mulheres ter a ver com os homens é uma pergunta para a qual, singelamente, apenas adivinho uma resposta.

Poderia conjecturar uma daquelas respostas impregnadas de recalcamentos do passado em que os homens se sobrelevavam em independência económica, poder físico e social sobre as mulheres, mas não creio que seja, em concreto, essa a resposta, talvez servisse no Sec. XVIII… mas nos dias de hoje, não tem grande assentamento.

Não, a subjugação das mulheres, deriva não do facto de ela ter sido (ou ainda o ser) considerada inferior aos homens, mas de ela ser o seu objecto de prazer.

Face a este acréscimo, atentemos ao texto que transcrevo de Tolstoi que em 1889 descreve o que considera ser a real escravatura das mulheres e comparemo-lo aos dias de hoje, há diferenças?

Libertou-se a mulher de ser o objecto de prazer dos homens? Pretendeu ela alguma vez deixar de ser esse objecto?

Assim sendo, repetindo-me pergunto: o que é isso da emancipação das mulheres?

Sei que serei trucidada pelas mulheres e por ventura acaridada pelos homens por este texto, mas de bom grado aceito os punhais se para tanto a minha pergunta for escutada.

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